segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Porque Fumar Pedra.


Porque fumar pedra.
Por Bruno Rodrigues.

Ultimamente as coisas tem sido diferentes. Não sinto mais o mesmo tesão que eu sentia pelas coisas que eu fazia. Antes eu ficava excitado pra caralho com os objetivos que traçava pra mim mesmo, projetos de pesquisa, bandas, mestrado, emprego, doutorado. E não era nem isso que me excitava mais, e sim o percurso que eu tinha que fazer pra alcançar esses objetivos. Não sei. Acho que todo mundo passa por momentos em que vê sua própria vida como se fosse a coisa mais monótona do mundo, e fica procurando maneiras de conseguir voltar ao normal. O problema é que cada um tem sua maneira de lidar com seus próprios problemas, então ninguém pode lhe ajudar. E o pior é que eu nem sei se realmente é possível você voltar a ser quem era antes. Talvez o melhor a ser feito é esquecer quem você era, parar de ficar achando que antes era melhor e mais fácil, e procurar ter uma nova forma de lidar com as coisas. É isso que eu vou tentar fazer, antes de enlouquecer.
Eu passo tanto tempo pensando em coisas diferentes, como revistinhas em quadrinhos, monografia, minha cama quebrada, a aula de ontem, o ensaio do fim de semana, e em como todas essas coisas são desprezíveis, que eu acabo esquecendo de dormir, de comer e de fazer as coisas que antes eu tinha concentração pra fazer, como estudar e ler por entretenimento. O pior de tudo é que quando isso acontece com você, você nem percebe, só quando acaba acontecendo alguma coisa muito foda ou então várias coisas pequenas mas que também são fodas, como você tirar notas baixas, faltar várias aulas sem perceber, deixar de arrumar seu quarto por semanas e dormir em uma mistura de cama, roupas, apostilas e revistas. Acho que a principal coisa que fez com que eu me tocasse que isso tudo tava acontecendo foi quando minha família começou a me interrogar achando que eu tava fumando crack por conta do tanto que eu emagreci. Não sei. Talvez se eu começasse a fumar na lata seria mais simples de explicar pra eles. Tudo que eu consegui responder foi: "tá tudo ótimo, nunca me senti tão bem". Fingiram que acreditaram e eu não liguei. São três da manhã agora e eu tou aqui escrevendo um texto que eu não tenho a menor idéia de qual poderia ser a finalidade dele. Talvez venha a ser um texto importante ou algo que eu venha a deletar daqui a alguns minutos, não me importo. Vou continuar escrevendo.
Antes, quando eu passava por situações em que eu perdia o tesão pela rotina, eu buscava me animar projetando coisas legais pra um futuro próximo que poderiam ser trabalhadas a partir daquele momento, e isso realmente funcionava. Me instigava com as idéias novas, e agora, penso no futuro só por pensar. Talvez eu esteja tendo as idéias erradas sobre o que fazer com minha vida, ou então eu realmente esteja sem ânimo pra nada, só sei que se eu continuar assim vou acabar jogando fora muita coisa importante que eu construí ao longo da minha vida. Não com muito esforço, mesmo. E, pra falar a verdade, nada tão importante assim. Ah, foda-se. Vou continuar desse jeito mesmo. E vou começar a fumar pedra pra dar às pessoas um bom motivo.