terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sobre o teorema da corda quebrada.

No meio de tantas reflexões, vejo um cara perdido nas tentativas enfileiradas de montar todas aquelas peças espalhadas pelo chão, e foi montando, montando, que se foi criando sentido, foi se mostrando coerência e ele foi, pouco a pouco, solucionando problemas que emergiam nas faturas vencidas do cartão e no desespero incerto de alternativas mais urgentes. As câmeras na mão tentam registrar o incompreensível no tal teorema da corda quebrada.O lápis se guia no sentido de esclarecer o teorema da corda quebrada. As redes armadas na varanda não suportam o peso por razão da corda quebrada, e o teorema voa como um míssil  israelense na direção do rosto dos estudiosos que não se sustentam sem a corda inteira. Se o peso é grande, a corda quebra e o espírito cai por não suportar além do que ele pode suportar. Essa é a corda quebrada da nossa existência, dos casos ocultos nas linhas de nossos livros que quebram nossos estudos e enfeitiça os curiosos, envenenando o ar com a matemática do absurdo na engenharia perfeita de todos os nossos erros, do holocausto e do napalm a absorver a saúde das crianças e da humanidade em si, na fumaça da fogueira insana a escurecer a vista dos pássaros perdidos nos cabelos mortos das múmias famintas. A corda quebrada quebra nossos elos, sufoca nossas vontades, escraviza os pequenos e prende nossos punhos, já impossíveis de suportar a força e a pressão contra nossa carne. O sangue não corre pois a corda não quebra, e ouço a palavra "quebrada" dentro da minha cabeça, enquanto as tradições beijam o dinheiro daqueles que acenam e dizem "adeus" para o Brasil e toda a sua vergonha caracterizada no seu atraso e no seu amadorismo enquanto projeto de nação. Esse é o teorema da corda quebrada, e nem Arquimedes, nem Descartes, nem os mais expressivos matemáticos árabes ou marcianos saberiam solucionar ele com a mesma irresponsabilidade que eu assumi aqui para solucioná-lo.
Adeus terra das brincadeiras tristes, sempre te odiarei, e se acaso eu voltar, esganarei tua garganta com a ultima trança confeccionada com a insanidade do que sobrou desta bendita corda quebrada.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Chovendo espera.


São estas as minhas esperas: penso que a chuva já deveria chegar para lavar nossa calçada e talvez nos servir de alegria nas nossas brincadeiras sob as bicas d’água da nossa nova rua. Como seria bom molhar o rosto e afastar esse calor insuportável do meio dia, trazendo para a minha carne a sensação gostosa de vida, vendo essa água escorrer pelas minhas mãos, molhando os cachos dos meus cabelos, curtindo os pingos que se formam no espaço desse céu cor de metal que pertence exclusivamente a nós. Penso que a chuva virá na urgência própria dos que espera uma boa noticia, e brincaremos muito, esquecendo o cansaço diário das chatices que invadem nossas cabeças. Assim, por desejar essa vida, esqueceremos nossas responsabilidades de adultos e libertaremos essa infância adormecida por trás de nossa retina, que deseja muito voar sobre a cabeça de nossas preocupações. Aí eu te vejo tão assim, paradinha, quieta no que sente, que eu fico pensando em tudo isso e fico triste porque não dá pra ser da maneira que eu espero. Amanhã eu vestirei a camisa que não preciso, passarei os dedos entre os cabelos, afastando-os dos olhos e sairei de casa, abrindo meu corpo aos perigos da vida, atravessando aquele campinho esturricado pelo sol forte a ponto de me cegar e, como sempre é, vou olhando, desconfiado, para cada lado da rua, vendo as coisas encobertas pelas cascas feias do caos urbano, das feras que povoam esses bairros tristes em suas irregularidades estruturais e em tudo que me desperta desgosto de viver da maneira que não quero. É triste dividir a cadeira do ônibus com pessoas que não conheço, e que talvez nunca mais vou ver. É triste viver fora do lar, fora dos planos adequados para as nossas reais naturezas. Mas também é fantástico encontrar em cada retorno à nossa casa o universo que nós escolhemos para nós. Cada coisa desse espaço é muito parecido com nós mesmos, tudo da maneira que queremos e construímos, tudo muito pertencente a nós, que fazemos tudo isso com muito amor no coração. E era, como ainda é, agradável ver o tempo passar através dos teus olhos: não há dia, não há noite, nem muito menos aquela hora meio claro meio escuro,  o que há no nosso tempo é a eterna alegria das horas dos teus olhos, pois são neles que eu vejo a necessidade de dormir, de acordar, de caminhar na estrela espiritual de tua mão auxiliadora que empunha a flor de nossa jornada, lançando pelas dunas que se formam na concha de minhas mãos o cheiro de planta molhada pela chuva que, de tanto esperarmos, chegou como as vozes dos meninos brincadores dos quintais de nossos projetos e desejos. Da janela surge as galhadas daquela árvore bonita que permanece serena diante da rotina atormentadora de dias, semanas, meses e tempos incorruptíveis pelos vícios do meu relógio desesperado de tanto desejar a hora do retorno à paz, e quando eu finalmente sento e me aquieto, eu vejo os espíritos das horas de sossego que chegam sempre, sem maiores reservas, para falar sobre àquelas coisas que eu não compreendo, mas que gosto de ouvir, porque traz sempre na sonoridade das palavras a mensagem serena de alerta sobre todas as coisas que muitas vezes não nos atentamos. Mas a paz da tua mão rompe todas as barreiras da alegria e do tédio, mexe com o espaço num vendaval de sensações e lança todas as aflições para o alto, fazendo cair sobre o telhado das casas apenas a chuva de todas as nossas esperas.


O Homem.

Por fim o homem, aquele que é base e ponta de todas as dores, que pronuncia o pecado sobre o ombro do amor e que manifesta qualquer maldade nas páginas de suas principais lembranças de menino. Esse é o homem, humano, pai das tormentas e órgão vital da natureza infeccionada. Ele é o homem habitante dessa terra sinistra e caminha de acordo com sua força, sua idade e sua disposição. se for preciso amar, ele ama, se for preciso matar, ele mata, se for preciso fugir, foge e não há outros meios de atingi lo senão pelas suas próprias ambições. Peixe morto pela boca, passarinho preso na arapuca, homem cativo do dinheiro. Homem pai da solidão, é ele, e mais ninguém, o beijo universal e variante de nossos medos.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Menino.


Na rua da minha casa tem um menino que não cansa de brincar. Todo dia, lá pela hora da Ave Maria, ele vem cansado de jogar bola e me pede um copo d’água. Pergunto a ele o que ele vai ser quando crescer, e ele me diz, sem tirar os olhos do copo, que vai ser um cara legal, que vai estudar muito e vai ser grande, mas não grande no sentido de ser alto, vestir calça comprida e carregar na mão esquerda uma pasta cheia de papéis, mas ele diz, muito cheio de certeza, que vai ser grande nas suas idéias, nas suas vontades e que vai poder fazer tudo que ele gosta de fazer.
Quem sabe se ele está certo sobre tudo isso? Quem dirá a ele que há outros caminhos que ele pode trilhar? Quem pensará nele quando ele ganhar a vida como quem ganha a jóia mais preciosa de nossa fé?
Na simplicidade de sua idade, ele lança sobre meu conhecimento de mundo coisas novas que eu jamais sequer parei para refletir. Era dia de bolo e guaraná para ele e eu pensava saber de tudo que esses dias tinha me ensinado no decorrer do tempo, mas estava errado quando me achei convencido pela sua infância que o sol é invenção grande, das que se inventa na escola.

Eu tinha duas pedras
Uma azul, outra amarela
Com a azul, eu fiz uma pérola
Com a amarela quebrei tua janela
Das pedras que eu tinha
Só as cores ficou
Do azul eu joguei para o céu
Da amarela pintei o sol
Das cores que eu tinha
Eu usei como bem quis
Fiz sol, também fiz céu
E no tédio disso tudo, fui dormir

O danado me entregou o copo, agradeceu e seguiu rua abaixo – ouviu a mãe chamar na esquina – e no portão da minha casa fiquei, fiquei tanto tempo que amanheceu e, ainda de copo e garrafa na mão, fiquei ali por muito tempo, até a hora que ele voltaria do campinho, com a bola na mão e a amizade no coração, para beber água novamente...

A Mulher.

O sal azedo da lágrima cor de sangue pinta nossa visão de terror e tristeza. O sal forra o chão dessa estrada sem fim, sem caminho, sem uma onda de sorriso ausente nas tardes de pavor e desassossego. O sal, salgado, cor de ódio, fere os olhos chorosos das crianças mortas, de rosto inerte e agredido na sua espiritualidade interrompida. Não há gosto nesse sal para se saborear, não há vontade de ter gosto nessa fome de paz, não há paz nessa eterna necessidade de provar, com o apetite próprio dos perversos, o mal gosto de desespero na lágrima do submetido.
A mulher percorre os objetos desse mundo estranho, configurado na solidão dos que gostam do bem, dos que amam por amar, a mulher sofre a ausência do filho, roubado no dia das dores do oriente absorvido na areia regada pelas chuvas de bombas e fogo bandido, a mulher percorre o mundo, enquanto a lágrima perdida, desorientada na eterna fuga do incompreensível, percorre seu rosto por todas as direções do perigo, de um céu duvidoso nos dias de hoje. A mulher é o retrato da tristeza na sua viagem pelas terras secas de nossos olhos televisivos, que olham como quem vê algo não real, que não faz sentido e que não nos desperta o perigo da mensagem real do coração sombrio daqueles que, de armas em punho, mirada contra o rosto da via láctea, faz brotar na carne dos olhos escuros o mel da tristeza.
As manhãs surgem no espelho quebrado da vaidade humana, essa vaidade que fere os sonhos tristes, já desanimados, de ver nas vias dos longos quintais o nascer dos alimentos, dessas frutas capazes de confortar e matar a fome chorosa dos que sofrem. A mulher leva nas mãos um cacho de frutas e sobre a cabeça vai a estrela da seara universal de incontáveis pedidos de amor vigiado no conforto das pequenas casas, moradia da paz e espaço de preciosa liberdade.
Os astros circulam pelos cantos das casas, pelas ruas povoadas de gente morta, pelas luzes ausentes nesse buraco onde estamos, e nos dizem o grande aviso evidente, que estamos no mal caminho da evolução humana, que jamais encontraremos Deus no meio de tantas explosões bélicas desses gritos de ira, esse grito que mata as plantas, as pessoas, os pobres cachorrinhos e o mundo na sua simples composição. Jamais seremos felizes enquanto não houver alegria para a Palestina, jamais seremos felizes enquanto a mulher chorar essa lágrima azeda de sal.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Foda-se, Geraldo Vandré.


Diga o que quiser
Pense o que pensar
Não me interessa o que você possa vir dizer
Não pense que me preocupo com sua opinião
O mundo é muito mais do que o que você vê
E se passa na sua mente
Que eu vou me abalar
Com o que você acha ou deixa de achar
Saiba, pra seu governo
Que eu estou muito tranqüilo
Em relação a tudo o que você vê de ruim
Estou muito convencido
Que eu faço o que quiser
E não vai ser ninguém que vai me controlar
Portanto, poupe seus esforços
E guarde sua opinião
Não sou eu que vou perder a cabeça
Sofrendo com sua reprovação
Então sinta-se à vontade
Você pode seguir em frente
Espalhando todo o ódio que você tem de mim
Agora ouça este conselho
Pra você não se ferrar
Saiba medir com responsabilidade
O que você vai falar
Você pode até gritar
Xingar, esculhambar, reprovar
E até me ameaçar
Você pode dizer o que quiser
Porque não vai me abalar
Agora tenha cuidado
Com quem você vai mexer
Porque se mexer com um amigo meu
É o mesmo que pisar no meu pé
Portanto
Respeite pelo menos Gal