domingo, 28 de março de 2010

O Leite e a Pera: o cotidiano de um estudante perseguido pelo academicismo.




Era um jovem comum, como todos os outros. Aliás, ser comum dentro de um ambiente tão heterogêneo como o que ele se encontrava era bastante diferente, então não podemos dizer que era como todos os outros, e sim somente um jovem comum. Gostava de chegar cedo, conversar com os amigos, prestar atenção na aula e estudar bastante. Na verdade, no meio universitário poucas pessoas eram como ele devido sua dedicação aos estudos. Tal estereótipo se tornou tão raro hoje em dia que acabou migrando da regra pra exceção. Era um estudante do curso de História da UECE que sempre gostou do que fazia e nunca ofendeu ninguém, era bem comportado e pretendia seguir carreira nessa área que tanto adorava. E por ser tão normal, acabou sendo bem diferente dos outros, podendo até ser enquadrado como uma exceção em seu contexto.
O cotidiano de nosso protagonista na ambiência do bloco H oscilava entre momentos tranqüilos e experiências conturbadas devido a algumas hipocrisias bastante presentes naquela sociabilidade acadêmica, e, é bom dizer, por conta da atitude de certos professores que, em certos momentos, tinham a necessidade de exercer uma pretensa superioridade sobre tudo e todos. Mesmo com tudo isso, nosso estudante conseguia perceber as coisas de maneira distinta de seus colegas em relação às praticas acadêmicas de seu curso. Enquanto todos consideravam essa práticas normais e até corriqueiras, ele resguardava sua própria cosmovisão. O diferencial é que nosso protagonista era capaz de perceber, através da relação existente entre certos professores e alunos, uma certa circularidade de concessões que favoreciam ambos e perpetuavam um sistema deturpado de sociabilidade acadêmica que ele repudiava. Nesse modelo, o prestígio acadêmico era cedido do professor ao aluno se este cedesse sua adequação à certas exigências no que diz respeito à “responsabilidades acadêmicas” que na maioria das vezes, nem mesmo o próprio docente seguia. O prestígio acadêmico, nesse sentido, se dava através de avaliações mais “sensíveis” de provas, preferência em oportunidades de bolsas e etc. Daí a noção de circularidade concessiva, onde o aluno cedia sua obediência e o professor cedia sua preferência. Por sua cosmovisão bastante polêmica daquelas práticas, o estudante passou a ser muito perseguido. Para ele, era inconcebível que o aluno aceitasse certos acontecimentos revoltantes no meio universitário somente por considerar mais cômodo não ocasionar um enfrentamento direto com seus os professores, preferindo sentar em seu prestígio acadêmico tomando leite com pêra.
Esta análise nos leva a entender que, mesmo nesse contexto onde predominava uma noção de que a experiência na academia deva ser regrada, não pela meritocracia, e sim por valores que não tem nada a ver, havia uma exceção que ousava pensar de outro modo. Ou seja, uma vanguarda Auei que buscava romper com o academicismo instaurado.

sábado, 20 de março de 2010

Consumo jovem e Status.




“Você não é o carro que você anda, ou a roupa que usa...”, frase do Clube da Luta, que eu lembrei hoje quando olhei uma foto desse filme. Porque as pessoas se deixam escravizar por essa questão de status, como que uma aparentemente inofensiva posse pode manter o indivíduo completamente dominado e alienado em relação a isso? Invertem-se os valores, o individuo torna-se a posse de determinado objeto, o carro, a roupa, o tênis, o relógio, o perfume, a casa... E por aí vai. A vontade de ser visto hoje leva muitas pessoas, principalmente os jovens, a gastar muito dinheiro com roupa, carro, som do carro, festas caras em que vai usar as roupas caras, no fim são seres superficiais.
Esses jovens ainda estão bastante presos nesse mundo leite-com-pêra, presos a essa vontade de freqüentar lugares em que todos vão (que também é uma forma de consumo, pois depois de consumido aquele lugar, já se busca outro para ir) apenas para mostrar que estão na ultima tendência da moda, que tem um novo tênis, um novo carro, para provar que podem comprar Uísque caro. Alguns dizem que esses jovens compram roupas caras para se sentir bem, mas pesquisando sobre esse tema, encontrei em fóruns de discussão, essas pessoas acham que se vestir bem para eles é apenas a opinião dos outros em relação ao que eles estão usando, “vou para uma festa com essa blusa por que ela chama a atenção.”, infelizmente grande parte da juventude hoje está presa a essa ostentação que muitos não conseguem manter, são bastante endividados, mas não se controlam, e continuam consumindo como loucos e se virando para pagar as contas, vou ficar mais tranqüilo quando as pessoas perguntarem a si antes de fazer as compras se precisam mesmo possuir aquilo e se aquela determinada posse vai fazê-los crescer em algo, ou se estão apenas em busca de status.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Artigo Auei - Uma análise histórica da formação do Auei-ismo. (Continuação)

Peço desculpas pela demora de publicar esta continuação, e também pelo longo período de afastamento de meus compromissos enquanto praticante da doutrina Auei. Na verdade o que aconteceu é que eu acabei esquecendo de postar o resto desse texto e só me lembrei agora. Enfim, deleitem-se.

O Movimento Auei: A Revolução na Práxis Acadêmica.

Por: Bruno Rodrigues Costa.

Parte III: Dos valores que tem tudo a ver

O que significam os valores que tem tudo a ver? Quais são as inovações no modo de fazer a vida universitária dentro do Auei-ismo? Já que o academicismo era tão criticado, o que o Movimento Auei propõe? O pensamento Auei, e sua nova maneira de pensar a sociedade a partir dos valores que tem tudo a ver, será revolucionário, pois irá defender uma sociedade que reconheça a sua consciência desajustada, suas próprias contradições. O projeto do Movimento Auei é de uma reinterpretação dos valores da modernidade, reconhecendo os “pinos redondos nos buracos quadrados”1 da civilização atual e como eles representam a verdadeira força motriz da história. Defende o fim de uma convivência autodestrutiva e a conscientização das pessoas de que, segundo Ronald Rodrigues, “nós somos seres indivíduo-coletivos e precisamos apenas reconhecer essa nossa natureza para podermos viver de maneira Auei.”2, devemos formar valores políticos, acadêmicos e culturais que contemplem tanto o indivíduo quanto a coletividade, uma articulação das micro com as macro-felicidades, de modo que todos possam viver bem, conviver livres e gritar Auei!
No âmbito da UECE, o Movimento Auei vai romper com a hipocrisia do academicismo e criar um novo paradigma de experimentação do curso através da doutrina da não-separação do binômio pensamento-comportamento. Os Auei-istas pretendem transformar o cotidiano da vida universitária sendo contrários ao esquema pedagógico unilateral de cima pra baixo vigente e mostrando à todos que a universidade é um espaço de experimentação e produção de saber diferenciado com possibilidades imensas!

Parte IV: Do Auei total ao Auei em migalhas.

O que se entende por Auei total, é a perspectiva de pensar o auei-ismo dentro do conjunto de práticas que remetem aos valores que tem tudo a ver, sem dissociá-las de um quadro mais abrangente de paradigmas auei-ísticos. Ou seja, o auei-ismo totalizante só se dá dentro de um entendimento de que não se pode aderir ao conjunto de idéias e práticas aueis somente nos momentos convenientes, e sim, deve-se permanecer atuando, seja produzindo intelectualmente ou em suas práticas cotidianas, seguindo uma linha de raciocínio de ruptura com os valores que não tem nada a ver, e mantendo uma coerência entre o seu discurso e o verdadeiramente cumprido. Não se enquadra na perspectiva totalizante do auei-ísmo aquele que se diz distante dos valores academicistas ultrapassados e de toda a podridão de hipocrisia que ronda os corredores universitários, e, na primeira ocasião, se curva diante dos doutores que vomitam a alcunha da mediocridade em cima dos alunos a todo momento, em troca de uma futura possibilidade de financiamento ou até de um falso prestígio acadêmico. Algo que é discutido por Germano “Magão” em sua conceituação de Prostituição Acadêmica. Para o auei-ísmo totalizante, é preciso ser íntegro em relação à manutenção de suas práticas aueis em seu cotidiano. Porém, é importante entender que vivemos em uma sociabilidade acadêmica que é bastante comprometida para os valores que tem tudo a ver, e que se baseia em disputas selvagens por prestígio acadêmico longe de serem meritocráticas, o que torna complicado a vida do praticante do auei-ísmo. É possível sobreviver dentro deste meio mantendo suas práticas de contestação, sendo que, para isso, é necessário bastante confiança e integridade, qualidades que vem se perdendo cada vez mais.
O que se percebe nos dias de hoje é uma verdadeira pulverização do espírito Auei no âmbito de sua propagação e manutenção cotidiana. A partir do momento em que são deixadas de lado convicções ideológicas sobre o academicismo para se encaixar nos moldes requeridos pelos mesmos doutores que lhe chamam de medíocre, o auei-ísmo vai se partindo e se esmigalhando. Daí a conceituação de Auei-ísmo em Migalhas, por não ter perspectiva totalizante e ser fragmentado no âmbito das práticas rotineiras. Este modo de conceber o auei-ísmo faz com que se torne aceitável perceber a hipocrisia academicista do dia-a-dia, através de uma releitura dos paradigmas da contemporaneidade pelo viés dos valores que tem tudo a ver, e atuar de maneira contestadora somente quando for conveniente, em práticas aueis dissociadas do ideário maior do auei-ísmo. Torna possível, também, uma apropriação, por parte de seus ditos seguidores, somente de aspectos da doutrina Auei que não entrem em confronto com a comodidade do academicismo. Algo que carece de ser refletido.
O que se entende então é que este rumo que toma o pensamento Auei, à uma cada vez maior fragmentação de sua doutrina, é perigoso, e deve ser analisado de maneira mais profunda para que se chegue a uma solução. Talvez um combate à uma tendência leite-com-perista ou até uma releitura do próprio Auei-ísmo.