segunda-feira, 30 de julho de 2012

Meus amigos são mesmo um barato.


  Caminhei por alguns caminhos tortuosos, caminhei longas distâncias ao passo que encontrava sempre novos rostos, novas faces com as quais argumentava, e no meio desse caleidoscópio multiforme e multicor encontrei o amor, o mais puro amor que um velho jovem coração pode encontrar. Meus pés cansados ainda podiam caminhar, mas não precisei ir tão longe, os anjos me encontraram, lindos anjos, lindos corpos de beleza e juventude, minha galera: aqueles olhos verdes que tem sempre algo a dizer, parece até que a sabedoria pousou nos ricos cachos que povoam sua iluminada cabeça, que de tão jovem tem algo da sabedoria dos antigos, encontrei também a felicidade, a comunhão e acima de tudo a celebração da vida na face magra, porém carinhoso e acima de tudo amorosa do amigo que outrora poderia ter sido paixão, mas um amor maior não poderia encontrar em outra instância que não fosse sua amizade, o sorriso que sempre me fará sorrir não importa quão adversa seja a circunstância, a pura beleza do amor e da beatitude se esconde nos seus modos rudes e que eu tão bem consigo enxergar,  e por detrás também de uma barba cheia e dos cabelos negros eu só vejo a mais intensa ternura do coração humano, aquele que é capaz de te bater a face com tanto carinho que a dor nem ao menos será sentida no coração, o amigo com quem se tem vontade de erguer todos os copos e quem sem ela a noite nunca vai ser a mesma, pois ele trás consigo uma alegria tremenda e de tal forma contagiante que parece que os antigos espíritos do festejo lhe acompanham, e por último o que parece ser sensato onde a sensatez não cabe e que acaba dessa forma sendo insensato junto, como todo mundo, aquele que traz na pele a marca de anos de sofrimento e que é motivo de piada entre nós pela sua rigidez, mas tão rígido quanto ele é a pureza do seu coração, a verdade que sai de sua boca cada vez que ele se pronúncia e a paixão com que ele defende tudo aquilo que acredita. Alguns podem achar que estas palavras não cabem mais, mas quer saber?! Meus amigos são mesmo um barato, e essas palavras eu não tenho medo de pronunciar, mesmo que a força do tempo venha a arrancar tudo isso de mim. Mas hoje? Hoje meus amigos são um barato.
(Para Ronald, Magão, Bruno e Luã)

terça-feira, 17 de julho de 2012

Para além de tudo isso.


Não pense que não, porque há em nossas almas grandes pregos, tortos e enferrujados, que arranham nossos olhos com sua propriedade pontiaguda de maldade. Há em nossas almas esses pregos, mas só há quando há maldade. Um santo desce do céu e diz a todos nós que esses pregos são doenças inevitáveis, frutos de nossos caprichos pequenos, mas que são capazes de nos devorar pelo pé, fazendo-nos inúteis para a vida.
Eu não ligo se sou bom ou ruim para o mundo, apenas vejo da minha janela, sem grande entusiasmo, o rosto daqueles que odeiam a vida, dos que se maldizem e dos que morrem de tédio diante dos grandes edifícios que rasgam a terra na sua infinita monstruosidade e feiura, como se fosse um peixe habitando numa toca de tatu, fugindo sem saber ao certo os seus temores.
Uma noite para atravessar, um dia para se distrair de toda chatice que nos miram e nos atingem como pedra, e lançado numa calçada suja de mijo de rato, feito um corpo pesado que não resiste ao peso insuportável dos olhares o povo, vou pensando em como temos um mundo feio pra suportar, pois ele é feio porque assim foi a vontade do homem em construir esse mundo e essas casas de muro alto que isolam e impede a agradável sensação de olha para a rua. Para além dos muros, da rua e da cidade sabemos que existe um mundo grande, tão grande quanto a maldade dos egoístas, para além disso tudo temos Portugal e tantos outros lugares que formaram ao seu gosto novos lugares pela força da espada, do tiro e do grito católico, e por isso somos assim, uma confusão de sangue e identidade que vaza pelas nossas ações desmerecidas enquanto seres vivos portadores de células, de doenças, de alma e feridas arruinadas pela sujeira das grandes cidades e do ar preto que respiramos.
Eu poderia dizer que estou triste, mas não estou porque Deus planeja meu dia desde muito antes de haver o existir, e tudo isso é bom apesar do que não é bom, e isso, simplesmente, pode ser ignorado para que não haja nenhum apego ao que possa nos mostrar como sendo chato ou antiquado. Isso desperta o desejo de um mundo melhor, onde esse mundo seja nosso e não dos que tenham mais, nem dos que ambicionam mais (Dona Rosane Collor), mas os homens não sustentarão a ideia da felicidade enquanto entenderem a felicidade como algo que se pode tocar. Ter o que se quer ter é bom, mas é preciso estar certo do que é bom ter.
Não existe um sentido claro nas palavras ditas por todos nós, porque nós carregamos sob a língua o peso do caos e do vento desorganizador em nosso hálito de boca suja, por isso, justifico nessa altura de meu raciocínio tanta coisa que choveu sobre minha cabeça e que fui escrevendo, escrevendo, escrevendo e falando dentro de minha cabeça até chegar aqui, onde cheguei. Talvez em lugar nenhum.
P.S: São Paulo é uma cidade detestável que subtrai consideravelmente a alegria das “férias”. 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sobre os professores e a liberdade.


Os professores são pessoas horríveis. Principalmente os do terceiro mundo. Precisam da mesma toxina que é dada às aeromoças para manterem o sorriso durante as longas horas de vôo. É preciso insanidade para aguentar longas jornadas de trabalho sendo justamente aquela pessoa que lhe oprimia quando você era mais jovem, aquele que lhe impedia de conversar com os amigos e não lhe deixava brincar depois que o recreio acabava. É duro conviver consigo mesmo e ainda ter que sobreviver na miséria, e ir ao trabalho sorridente mesmo nos dias de frustração e indiferença. Isso é loucura. E não uma loucura em um bom sentido, no sentido libertador e transgressor. Muito pelo contrário. É uma loucura claustrofóbica em relação à própria vida. Por mais que o professor se afogue na obra do Paulo Freire ele nunca vai deixar de ser um adestrador, alguem que orienta seus alunos nos caminhos que foi orientado à orientá-los. Um professor de uma instituição nunca será alguem que ensina para a liberdade. Não a liberdade bruta e crua. Esta só existe quando é conquistada através da determinação da própria pessoa, e o professor, do modo como vem atuando hoje, só atrapalha esse processo. A educação como um todo, atualmente, é algo frustrante. Não sei se pelo fato de ser subordinada à aprovações em exames de seleção que definem o futuro de jovens que não tem a menor perspectiva do que querem na sua vida, ou se porque responde à um interesse político de desvalorização intelectual da população mais pobre. Dentro dessa lógica, o melhor professor é aquele que mais rápido consegue colocar o aluno em estado de anomia. Quebrando seu espírito e fodendo-lhe a mente. O pior de tudo é ter toda uma formação que lhe ensina a não fazer isso e, mesmo assim, fazê-lo. Principalmente porque é preciso. Ainda pior é saber que você faz isso contra seus princípios, para sobreviver, e sabe que nunca vai fugir desse esquema. É uma profissão de sado-masoquistas, enclausurados em um discurso de que ainda há margem para a emancipação humana através da educação. Um discurso de que a sua vida é um lixo mas eles conseguem levá-la porque são fortes, corajosos e fiéis ao propósito de melhorar a vida de seus alunos. Um discurso de que eles são loucos por escolherem aquela profissão, que só eles aguentariam essa barra, por isso são superiores. E acabam tendo que suprimir suas frustrações com atos de imbecilidade, como comer suas alunas e encher a cara em festas da escola, e tentar aumentar sua auto-estima perante os amigos que tem empregos melhores contando-lhes histórias de como eles mudam a vida de seus alunos. Grande merda. O papel do professor é o mais ingrato possível. Digo do professor de verdade, aquele que realmente muda a vida das pessoas. É o de promover a autonomia. Promover a liberdade. E os professores que fazem isso, verdade seja dita, não estão nas escolas e academias. O professor deve ser aquele que ensina seu aluno a cuspir na sua cara e seguir com a sua vida. Com seus próprios pés.