Não pense que não, porque há em nossas almas
grandes pregos, tortos e enferrujados, que arranham nossos olhos com sua
propriedade pontiaguda de maldade. Há em nossas almas esses pregos, mas só há
quando há maldade. Um santo desce do céu e diz a todos nós que esses pregos são
doenças inevitáveis, frutos de nossos caprichos pequenos, mas que são capazes
de nos devorar pelo pé, fazendo-nos inúteis para a vida.
Eu não ligo se sou bom ou ruim para o mundo, apenas vejo da minha
janela, sem grande entusiasmo, o rosto daqueles que odeiam a vida, dos que se
maldizem e dos que morrem de tédio diante dos grandes edifícios que
rasgam a terra na sua infinita monstruosidade e feiura, como se fosse um peixe
habitando numa toca de tatu, fugindo sem saber ao certo os seus temores.
Uma noite para atravessar, um dia para se distrair de toda chatice que
nos miram e nos atingem como pedra, e lançado numa calçada suja de mijo de
rato, feito um corpo pesado que não resiste ao peso insuportável dos olhares o
povo, vou pensando em como temos um mundo feio pra suportar, pois ele é feio
porque assim foi a vontade do homem em construir esse mundo e essas casas de
muro alto que isolam e impede a agradável sensação de olha para a rua. Para
além dos muros, da rua e da cidade sabemos que existe um mundo grande, tão
grande quanto a maldade dos egoístas, para além disso tudo temos Portugal e
tantos outros lugares que formaram ao seu gosto novos lugares pela força da
espada, do tiro e do grito católico, e por isso somos assim, uma confusão de
sangue e identidade que vaza pelas nossas ações desmerecidas enquanto seres
vivos portadores de células, de doenças, de alma e feridas arruinadas pela
sujeira das grandes cidades e do ar preto que respiramos.
Eu poderia dizer que estou triste, mas não estou porque Deus planeja meu
dia desde muito antes de haver o existir, e tudo isso é bom apesar do que não é
bom, e isso, simplesmente, pode ser ignorado para que não haja nenhum apego ao
que possa nos mostrar como sendo chato ou antiquado. Isso desperta o desejo de
um mundo melhor, onde esse mundo seja nosso e não dos que tenham mais, nem dos
que ambicionam mais (Dona Rosane Collor), mas os homens não sustentarão a ideia
da felicidade enquanto entenderem a felicidade como algo que se pode tocar. Ter
o que se quer ter é bom, mas é preciso estar certo do que é bom ter.
Não existe um sentido
claro nas palavras ditas por todos nós, porque nós carregamos sob a língua o
peso do caos e do vento desorganizador em nosso hálito de boca suja, por isso,
justifico nessa altura de meu raciocínio tanta coisa que choveu sobre minha
cabeça e que fui escrevendo, escrevendo, escrevendo e falando dentro de minha
cabeça até chegar aqui, onde cheguei. Talvez em lugar nenhum.
P.S: São Paulo é uma
cidade detestável que subtrai consideravelmente a alegria das “férias”.
As ferias começaram agora Ronald!
ResponderExcluirEsse bixo escreve bem ó
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