terça-feira, 17 de julho de 2012

Para além de tudo isso.


Não pense que não, porque há em nossas almas grandes pregos, tortos e enferrujados, que arranham nossos olhos com sua propriedade pontiaguda de maldade. Há em nossas almas esses pregos, mas só há quando há maldade. Um santo desce do céu e diz a todos nós que esses pregos são doenças inevitáveis, frutos de nossos caprichos pequenos, mas que são capazes de nos devorar pelo pé, fazendo-nos inúteis para a vida.
Eu não ligo se sou bom ou ruim para o mundo, apenas vejo da minha janela, sem grande entusiasmo, o rosto daqueles que odeiam a vida, dos que se maldizem e dos que morrem de tédio diante dos grandes edifícios que rasgam a terra na sua infinita monstruosidade e feiura, como se fosse um peixe habitando numa toca de tatu, fugindo sem saber ao certo os seus temores.
Uma noite para atravessar, um dia para se distrair de toda chatice que nos miram e nos atingem como pedra, e lançado numa calçada suja de mijo de rato, feito um corpo pesado que não resiste ao peso insuportável dos olhares o povo, vou pensando em como temos um mundo feio pra suportar, pois ele é feio porque assim foi a vontade do homem em construir esse mundo e essas casas de muro alto que isolam e impede a agradável sensação de olha para a rua. Para além dos muros, da rua e da cidade sabemos que existe um mundo grande, tão grande quanto a maldade dos egoístas, para além disso tudo temos Portugal e tantos outros lugares que formaram ao seu gosto novos lugares pela força da espada, do tiro e do grito católico, e por isso somos assim, uma confusão de sangue e identidade que vaza pelas nossas ações desmerecidas enquanto seres vivos portadores de células, de doenças, de alma e feridas arruinadas pela sujeira das grandes cidades e do ar preto que respiramos.
Eu poderia dizer que estou triste, mas não estou porque Deus planeja meu dia desde muito antes de haver o existir, e tudo isso é bom apesar do que não é bom, e isso, simplesmente, pode ser ignorado para que não haja nenhum apego ao que possa nos mostrar como sendo chato ou antiquado. Isso desperta o desejo de um mundo melhor, onde esse mundo seja nosso e não dos que tenham mais, nem dos que ambicionam mais (Dona Rosane Collor), mas os homens não sustentarão a ideia da felicidade enquanto entenderem a felicidade como algo que se pode tocar. Ter o que se quer ter é bom, mas é preciso estar certo do que é bom ter.
Não existe um sentido claro nas palavras ditas por todos nós, porque nós carregamos sob a língua o peso do caos e do vento desorganizador em nosso hálito de boca suja, por isso, justifico nessa altura de meu raciocínio tanta coisa que choveu sobre minha cabeça e que fui escrevendo, escrevendo, escrevendo e falando dentro de minha cabeça até chegar aqui, onde cheguei. Talvez em lugar nenhum.
P.S: São Paulo é uma cidade detestável que subtrai consideravelmente a alegria das “férias”. 

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