quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pessoal Intransferível, por Torquato Neto.





Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos.
É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela.
Nada no bolso e nas mãos. Sabendo: perigoso, divino, maravilhoso. Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena e etc.
Difícil é não correr com os versos debaixo do braço.
Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa.
Difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes.
E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, "herdeiro" da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.
E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar.
Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi.
Adeusão.





terça-feira, 5 de junho de 2012

Sobre a Ruralização do homem moderno.


O século XXI chegou expressando no seu tempo a dinâmica doentia proposta pelo homem moderno nos espaços que ele ocupa (principalmente os grandes centros urbanos). Tal dinâmica se manifesta principalmente através do grande avanço tecnológico e econômico – não necessariamente nessa ordem – a que nossas sociedades se submeteram, e quando falo em “sociedade” no plural, eu aponto para a variedade de grupos existentes nas cidades e suas representações, pondo em evidência as diversas formas de comportamento existentes e o perigo da falta de diálogo entre elas. Isso denuncia outro mal dos espaços citadinos, tão presente na mentalidade do homem moderno, que é a estética “tribal” dos mais diversos grupos sociais que existem e, dentro de sua existência “coletiva”, acaba por não estabelecer relações com outros grupos, sendo regidos por práticas intolerantes que acarreta num isolamento, como ilhas de um arquipélago que não estabelecem relações entre si. A impressão que se tem é que o homem moderno perdeu o senso de coletivo e, junto a isso, perdeu tantos outros sensos ligados ao viver social, como o de família, de solidariedade, de amor e o de pertencimento à sociedade na qual ele vive.
Pode parecer exagero afirmar que o homem moderno perdeu a característica da sociabilidade, mas o que se pode constatar é que, nas grandes cidades, o homem moderno vive para promover o progresso do Estado e de suas instituições, deixando num plano inferior a auto-realização e os projetos de vida dele, ligados voluntariamente à todos aqueles que para ele são importantes. Os homens vivem hoje em suas casas, verdadeiros universos restritos de sua existência, e fora desse espaço o homem se torna um mero figurante do progresso e da estrutura física e social da cidade moderna, assumindo a condição de anônimo dentro da sua realidade, sendo irrelevante na dinâmica global social, de trocas de experiências e pensamentos.
O tempo se encarregou de reduzir o homem à condição de máquina, ou de uma coisa qualquer, fria para a construção de uma identidade coletiva capaz de estruturar com a devida consistência um determinado grupo de homens habilitados a viver uma experiência social plena.
Nesse sentido, analisando a decadência evidente do homem moderno/urbano enquanto ser social, é possível pensar num possível resgate desse homem através de uma nova tomada de consciência, capaz de abolir, num primeiro momento, a dinâmica feroz dos grandes centros. Assim, estabelecendo o caminho da ruralização desse homem, pode-se possibilitar um estímulo para a sua natureza social, pois se anularmos o trabalho intenso e exaustivo no qual o homem citadino se submete diariamente, dando vez ao trabalho coletivo, verdadeiro, com a necessária relação de troca de experiências, onde a família esteja presente e não haja exploração maldosa do Estado , a realidade do homem (e dos homens) será alterada, e isso acarretará na constituição de uma sociedade plena, onde os homens serão de fato um grupo expressivo, onde a sua natureza social será posta em evidência. Porém, isso não anula o caráter individual de cada homem, pois cada sujeito representa uma unidade de práticas e pensamentos, e é justamente esses elementos que, ao serem somados, constroem a identidade especifica da sociedade.
As cidades adoecem o homem, o imbeciliza e os torna mesquinhos e perversos. Nas cidades o homem se isolam cada vez mais nos seus planos individuais de vida e são mecanicamente induzidos à indiferença no que se refere aos problemas dos outros. O homem que deseja a liberdade deve se desligar desses modelos de vida e se aventurar numa nova prática de vida. O homem deve fugir dos grandes centros urbanos em direção ao campo, aos pampas, ao pantanal, às cordilheiras, ao deserto e à todos os lugares seguramente distantes da cidade e de sua atmosfera cancerígena, porque assim o homem encontrará razões mais claras para a sua existência.
Nesse sentido, a teoria da ruralização do homem moderno (ou o chicobentismo) traz na sua execução a proposta de uma sociedade igualitária, mas não no aspecto romântico-utópico-incoerente do sistema socialista e dos modelos de sociedade teorizado por Marx, mas sim no aspecto puramente de vivência mais intima com os tantos outros sujeitos sociais em potencial que povoam o mundo.
A ruralização do homem moderno traz no seu sentido a melhoria da vida do homem no que se refere às suas vivências com outros sujeitos. Através desse novo modelo de vida, o homem pode inserir, verdadeiramente, a família e todos aqueles que se ligam por qualquer espécie de laço (amigos, parceiros, amantes...), observando a necessidade da presença destes para a construção de uma sociedade saudável (num ambiente saudável). Isso possibilitará o fim da relação entre pessoas em graus hierárquicos, além de acabar, através da relação amistosa, com o sentimento indiferente de coleguismo para com o próximo nos ambientes de trabalho típico dos grandes centros urbanos.
No campo, a vida pode oferecer melhores condições de desenvolvimento através do real trabalho coletivo, onde a comunicação se faz mais possível e mais necessária, tendo em vista a harmonia da localidade tranquila, tão necessária para os nervos abalados do homem citadino, que ficou negativamente marcado pelo horror agressivo dos grandes edifícios, do trânsito caótico (estimulador da violência gratuita) e das relações doentias entre pessoas desequilibradas emocionalmente pela grande carga de exaustão, consequência direta do cotidiano intenso da cidade grande.
Por fim, o abandono da cidade grande trará ao homem moderno uma grande chance de reiniciar sua vida, observando a real melhoria de sua existência, melhorando a sua saúde, proporcionando maiores qualidades nos seus trabalhos e nas suas relações, ligando-o de maneira mais intensa à sua família e às suas raízes. O homem encontrará a real felicidade e o sentido claro de sua vida longe das grandes avenidas, num lugar onde ele estará seguramente amparado e protegido, na varanda de sua casa, onde ele possa descansar o corpo e o espírito enquanto observa o fim da tarde sentado em sua cadeira, enquanto ele espera chegar os primeiros amigos para iniciar as frequentes conversas noturnas, tão comum no interior, onde ele possa, nas horas de sossego, narrar histórias fantásticas sobre o folclore local, contribuindo para a preservação e transformação de seus aspectos culturais, tão forte nas pequenas vilas e povoados espalhados pelo Brasil. O homem poderá transformar a sua realidade a partir do momento que ele decidir anular em si a formação imbecilizante da cidade grande, marcada pela competitividade, pelo egoísmo e pela desonestidade e dar lugar a tudo isso para a verdadeira comunhão entre os demais homens, onde não haja mais o desgaste excessivo dos trabalhos intensos da cidade e a odiosa exploração hierárquica das grandes empresas. Assim, o homem realmente se emancipará da louca dinâmica urbana e, com o inicio da jornada do homem moderno ruralizado, o mundo se tornará um lugar melhor para se viver.