terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Mulher.

O sal azedo da lágrima cor de sangue pinta nossa visão de terror e tristeza. O sal forra o chão dessa estrada sem fim, sem caminho, sem uma onda de sorriso ausente nas tardes de pavor e desassossego. O sal, salgado, cor de ódio, fere os olhos chorosos das crianças mortas, de rosto inerte e agredido na sua espiritualidade interrompida. Não há gosto nesse sal para se saborear, não há vontade de ter gosto nessa fome de paz, não há paz nessa eterna necessidade de provar, com o apetite próprio dos perversos, o mal gosto de desespero na lágrima do submetido.
A mulher percorre os objetos desse mundo estranho, configurado na solidão dos que gostam do bem, dos que amam por amar, a mulher sofre a ausência do filho, roubado no dia das dores do oriente absorvido na areia regada pelas chuvas de bombas e fogo bandido, a mulher percorre o mundo, enquanto a lágrima perdida, desorientada na eterna fuga do incompreensível, percorre seu rosto por todas as direções do perigo, de um céu duvidoso nos dias de hoje. A mulher é o retrato da tristeza na sua viagem pelas terras secas de nossos olhos televisivos, que olham como quem vê algo não real, que não faz sentido e que não nos desperta o perigo da mensagem real do coração sombrio daqueles que, de armas em punho, mirada contra o rosto da via láctea, faz brotar na carne dos olhos escuros o mel da tristeza.
As manhãs surgem no espelho quebrado da vaidade humana, essa vaidade que fere os sonhos tristes, já desanimados, de ver nas vias dos longos quintais o nascer dos alimentos, dessas frutas capazes de confortar e matar a fome chorosa dos que sofrem. A mulher leva nas mãos um cacho de frutas e sobre a cabeça vai a estrela da seara universal de incontáveis pedidos de amor vigiado no conforto das pequenas casas, moradia da paz e espaço de preciosa liberdade.
Os astros circulam pelos cantos das casas, pelas ruas povoadas de gente morta, pelas luzes ausentes nesse buraco onde estamos, e nos dizem o grande aviso evidente, que estamos no mal caminho da evolução humana, que jamais encontraremos Deus no meio de tantas explosões bélicas desses gritos de ira, esse grito que mata as plantas, as pessoas, os pobres cachorrinhos e o mundo na sua simples composição. Jamais seremos felizes enquanto não houver alegria para a Palestina, jamais seremos felizes enquanto a mulher chorar essa lágrima azeda de sal.

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