terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Menino.


Na rua da minha casa tem um menino que não cansa de brincar. Todo dia, lá pela hora da Ave Maria, ele vem cansado de jogar bola e me pede um copo d’água. Pergunto a ele o que ele vai ser quando crescer, e ele me diz, sem tirar os olhos do copo, que vai ser um cara legal, que vai estudar muito e vai ser grande, mas não grande no sentido de ser alto, vestir calça comprida e carregar na mão esquerda uma pasta cheia de papéis, mas ele diz, muito cheio de certeza, que vai ser grande nas suas idéias, nas suas vontades e que vai poder fazer tudo que ele gosta de fazer.
Quem sabe se ele está certo sobre tudo isso? Quem dirá a ele que há outros caminhos que ele pode trilhar? Quem pensará nele quando ele ganhar a vida como quem ganha a jóia mais preciosa de nossa fé?
Na simplicidade de sua idade, ele lança sobre meu conhecimento de mundo coisas novas que eu jamais sequer parei para refletir. Era dia de bolo e guaraná para ele e eu pensava saber de tudo que esses dias tinha me ensinado no decorrer do tempo, mas estava errado quando me achei convencido pela sua infância que o sol é invenção grande, das que se inventa na escola.

Eu tinha duas pedras
Uma azul, outra amarela
Com a azul, eu fiz uma pérola
Com a amarela quebrei tua janela
Das pedras que eu tinha
Só as cores ficou
Do azul eu joguei para o céu
Da amarela pintei o sol
Das cores que eu tinha
Eu usei como bem quis
Fiz sol, também fiz céu
E no tédio disso tudo, fui dormir

O danado me entregou o copo, agradeceu e seguiu rua abaixo – ouviu a mãe chamar na esquina – e no portão da minha casa fiquei, fiquei tanto tempo que amanheceu e, ainda de copo e garrafa na mão, fiquei ali por muito tempo, até a hora que ele voltaria do campinho, com a bola na mão e a amizade no coração, para beber água novamente...

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