São
estas as minhas esperas: penso que a chuva já deveria chegar para lavar nossa
calçada e talvez nos servir de alegria nas nossas brincadeiras sob as bicas
d’água da nossa nova rua. Como seria bom molhar o rosto e afastar esse calor
insuportável do meio dia, trazendo para a minha carne a sensação gostosa de
vida, vendo essa água escorrer pelas minhas mãos, molhando os cachos dos meus
cabelos, curtindo os pingos que se formam no espaço desse céu cor de metal que
pertence exclusivamente a nós. Penso que a chuva virá na urgência própria dos
que espera uma boa noticia, e brincaremos muito, esquecendo o cansaço diário
das chatices que invadem nossas cabeças. Assim, por desejar essa vida,
esqueceremos nossas responsabilidades de adultos e libertaremos essa infância
adormecida por trás de nossa retina, que deseja muito voar sobre a cabeça de
nossas preocupações. Aí eu te vejo tão assim, paradinha, quieta no que sente,
que eu fico pensando em tudo isso e fico triste porque não dá pra ser da
maneira que eu espero. Amanhã eu vestirei a camisa que não preciso, passarei os
dedos entre os cabelos, afastando-os dos olhos e sairei de casa, abrindo meu
corpo aos perigos da vida, atravessando aquele campinho esturricado pelo sol
forte a ponto de me cegar e, como sempre é, vou olhando, desconfiado, para cada
lado da rua, vendo as coisas encobertas pelas cascas feias do caos urbano, das
feras que povoam esses bairros tristes em suas irregularidades estruturais e em
tudo que me desperta desgosto de viver da maneira que não quero. É triste
dividir a cadeira do ônibus com pessoas que não conheço, e que talvez nunca
mais vou ver. É triste viver fora do lar, fora dos planos adequados para as
nossas reais naturezas. Mas também é fantástico encontrar em cada retorno à
nossa casa o universo que nós escolhemos para nós. Cada coisa desse espaço é
muito parecido com nós mesmos, tudo da maneira que queremos e construímos, tudo
muito pertencente a nós, que fazemos tudo isso com muito amor no coração. E
era, como ainda é, agradável ver o tempo passar através dos teus olhos: não há
dia, não há noite, nem muito menos aquela hora meio claro meio escuro, o que há no nosso tempo é a eterna alegria
das horas dos teus olhos, pois são neles que eu vejo a necessidade de dormir,
de acordar, de caminhar na estrela espiritual de tua mão auxiliadora que
empunha a flor de nossa jornada, lançando pelas dunas que se formam na concha
de minhas mãos o cheiro de planta molhada pela chuva que, de tanto esperarmos,
chegou como as vozes dos meninos brincadores dos quintais de nossos projetos e
desejos. Da janela surge as galhadas daquela árvore bonita que permanece serena
diante da rotina atormentadora de dias, semanas, meses e tempos incorruptíveis
pelos vícios do meu relógio desesperado de tanto desejar a hora do retorno à
paz, e quando eu finalmente sento e me aquieto, eu vejo os espíritos das horas
de sossego que chegam sempre, sem maiores reservas, para falar sobre àquelas
coisas que eu não compreendo, mas que gosto de ouvir, porque traz sempre na
sonoridade das palavras a mensagem serena de alerta sobre todas as coisas que
muitas vezes não nos atentamos. Mas a paz da tua mão rompe todas as barreiras
da alegria e do tédio, mexe com o espaço num vendaval de sensações e lança
todas as aflições para o alto, fazendo cair sobre o telhado das casas apenas a chuva
de todas as nossas esperas.
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário