segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Rota dos Aviões.


Estou na rota dos carros alucinados, perigosos nessa vibrante onda de maldade e doença a percorrer as casas de todas as vitimas do medo contemporâneo. Não há promessa de amparo que seja fiel à nossa confiança, uma vez que somos diariamente enganados pelo laço perverso dos gênios maus da nossa vila de misérias, e qualquer conselho de conforto é mais desesperador do que a sensação de presença nos pontos mais enterrados do inferno desconhecido. Estou na rota dos aviões que viajam irresponsavelmente sobre o céu da minha boca, expulsando o veneno da facilidade dos dias de hoje, conduzindo, assim, o homem ignorante, burro e imprestável ao estado mais agudo de preguiça e estagnação mental. O mundo merece a morte pela via do cansaço, conduzindo a humanidade ao mais completo estado de abandono e desprezo. Para além dessa carne podre que somos ainda há estruturas para nós incompreensíveis e que expressam mistérios na onda terrestre de vestígios de solidão perfurada na ilusão familiar que muitos, tomados por uma carga confusa de sentimentos, ora buscam e ora ignoram, sem saber ao certo o peso pleno de suas ações.
Estou na rota dos aviões, vendo lá longe a complexidade desinteressante dos edifícios, mais para cima vejo o azul do céu que, imagino, se formos num caminho direto, constante e eterno, não chegaremos a lugar nenhum. As pessoas não são mais capazes de me despertar curiosidade e a chave da minha mente retraída não é mais capaz de abrir sequer o cadeado da cadeia onde estou. Na rota dos aviões não há nada além de espaços ocupados por mentes em atraso. Que coisa mais estúpida é a humanidade! O ódio é o sentimento da vez e os homens se rasgam em suas cascas ímpares e incapazes de qualquer grau de associação. O choro é a atividade física do dia. O corpo nada mais é do que um monturo de biologia vencida pelo lixo moderno de nossos erros tão comuns e incapazes de qualquer intenção de correção. E o mundo rola numa esteira descartadora indo parar no vale da sombra da morte, aquele vale sinistro, bíblico mesmo, onde a marcha desorganizada dificulta a chegada em qualquer lugar. Meu coração é negro, terrível, ansioso por cometer crimes que envolva sangue e todas essas coisas que despertem a dor geral e que marquem o fim desse triste ano e dessa triste ordem temporal de nossa consciência corrompida pelos tesouros menores dessa terra odiosa e incapaz de qualquer nível de avanço.
Mas o que podemos esperar de nossos corações, tão treinados a funcionar tal qual máquinas descartáveis produzidas em Taiwan? E no silêncio do escuro da noite ouço uma voz que chama minha irmã, é uma experiência estranha diante de todas as certezas que temos quando estamos aptos a tocar em todas as nossas certezas, que são físicas, puramente físicas. Aí eu me lembro do amor, da obrigação necessária de amar, da manifestação positiva do amor, coisas que ninguém mais parece lembrar. O amor é uma coisa muito estranha, do ponto de vista das coisas que compõem as ruas em que corremos, apressados, incapazes de perceber na cara dos nossos irmãos qualquer expressão que seja: não vemos dor, nem satisfação, nem desejo de ser socorrido, nada disso, porque nós corremos muito, uns carregando muito amor, mas outros carregando muita aflição, e outros mais carregando todos os sentimentos que há no mundo, numa postura sofrida por estar sendo estranhamente devorado pela fome dos calendários egoístas na sua determinação do tempo amargo, de cheiro insuportável e que mata perversamente a vida que ainda teima em existir sobre a terra.
Eu, que estou na rota dos aviões, de tanto me iludir com esse sonho ausente do real, vagando por espaços que não me suportam, acabei sendo atropelado por um avião da tam e morri no dia marcado para o fim do mundo, mas essa nem Nostradamus esperava, nem a civilização maia, reduzida a um punhado de famintos pelo decorrer do tempo. O mundo não acabou, mas eu morri a partir do momento que percebi o clima de chatice que me cobria. No lugar onde estou eu procurei consultar a sabedoria dos filósofos gregos, dos altos líderes católicos, dos curandeiros ameríndios e dos cientistas árabes e vi, lá além daquele monte de bandeiras de amor, pessoas que expandiam a mente e apontavam para o grande mecanismo perverso que rege as civilizações, lançando ao vento furioso os mais diversos insultos capazes de abalar com força qualquer juízo inocente alheio a tudo isso. Eu vi os sonhos dos animais serem confeccionados na selva calma dos espíritos mansos e, do outro lado do espelho eu percebi as fossas abertas lançando sujeira na porta das donas de casa ocupadas em tecerem fofocas sobre as filhas alheias. Eu, que estava na rota dos aviões, fui lançado em outros mundos para repensar tudo o que eu já pensava, e até mesmo a bananeira espacial, bonita, sábia e amiga me privou de suas considerações acerca do que acontecia no espaço de seu caule e de suas raízes. Pensei, como todo mundo pensa algum dia, em materializar o crime insano de, com um facão na mão, cortar freneticamente a bananeira, vendo suas fibras caírem, retalhadas, sobre o solo lamacento que eu fiz para desenvolver sua vida, mas deixei para lá. O mundo é isso mesmo: um corredor decorado com obras da arte de produzir injustiças...

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