segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Crescendo, Crescendo...


Crescendo, crescendo, feito grito de ordem que desordena juízos, de forma disforme, construindo muros tortos de proteção, cercas falhas de idéias geniais. E cresce como os maiores humores da vida, das palavras trilhadas e dos sons emitidos. Crescemos num mundo que corre sobre a lavoura fértil de talentos, de poesias e sorrisos vermelhos, feito gotas de sangue na estrada longa da alegria.
Crescendo, crescendo na beira mar, numa folia marcada em meio a areais abafados de calores humanos, onde dançam os índios embriagados de mel e cajus, e seguimos assim, na brincadeira bonita de nossa juventude, de corpos sãos, resistentes a dança e aos excessos, somos assim, crescentes estrelas que brilham na noite vazia das matas e das pequenas cidades, iluminando os olhos claros das crianças e o coração desconfiado das meninas. Crescemos para maiores sermos, onde queremos, no alto de um farol, ser percebidos pelo que somos, sem máscaras, sem palavras mecânicas e profunda racionalidade, queremos sim, mais do que tudo, crescer em expressão de momentos, quem sabe perpétuos, de nossas vidas eternas.
Surge a luz que cresce no fim da estrada escura, na casa escura, na mata escura, e vai crescendo, iluminando campos limpos por onde o gado pasta e produz sob o céu e o sol de maio, carregando no decorrer dos anos uma flor que espalha cheiros e que perfuma nossas carnes, fazendo grandes os nossos braços para o trabalho e leve as nossas mãos para o amor e para a triste viola das noites de serenata, de lua branca e insônia, de alma vaga a voar até nascer do dia.
Voa na ventania da vila, com asas que crescem e se transformam, pelas lindas plumagens, no mais bonito dos pássaros, e voa sobre os telhados das casas e pousa na janela do sobrado, e fica quieto, parado, permitindo ser admirado por quem quer que o observe, fazendo, com isso, que o amor cresça na alma de cada criatura e transforme, também, os dias futuros em dias de amor.
Encha nossas ruas de doces e purezas do trabalho de nossa casa, lançando ao céu a canção que nos diz os melhores caminhos e as melhores maneiras para viver. Encha nossas casas, nossos quartos e nossos móveis com o cheiro de tua companhia, de tuas toalhas guardadas no guarda-roupa e do leite a ferver na cozinha, sob a incansável vigília de Maria, para que não se derrame de novo sobre o fogo e a lenha ardente, causando-nos o arrepio e a estranheza das armadilhas da vida.
Crescendo e cresceu. E cresceu tanto que até mesmo nas mais simples brincadeiras, nas mais humildes palavras e nos gestos mais comuns percebemos como cresceu, e cresceu tanto que ficou grande para caber em nossas mãos, e, por isso, nos restou matar a mesquinhez que existia em nós e criarmos, em seu lugar, a generosidade limpa e benéfica que nos ajuda a crescer e a iluminar nossas cabeças. Cresceu e ficou tão bonito que nos restou apenas compartilhar com o mundo um pouco do grande que tínhamos conosco e que antes ficávamos simplesmente sentados, observando seu crescimento, e ia crescendo, crescendo, e víamos tudo aquilo num transe divino, onde esse crescimento tomava a forma de um mundo inteiro, e que podíamos nos lançar nesse mundo e pousar onde quiséssemos pousar. Era como se nos atirássemos das mais altas nuvens, e rodopiássemos no espaço tantas e tantas vezes que seria impossível contar nossos giros e muito menos sentir saudade de qualquer coisa, pois rodaríamos feito folha seca no meio do terreiro.
E nunca parou de crescer, pois meus irmãos, assim como eu, cresceram após nascerem, e crescemos tanto que hoje somos o que somos, e continuamos a crescer e a ficar mais bonitos. E se acaso hoje, no meio de uma canção qualquer, eu ouço alguém dizer “crescendo, crescendo”, eu sorrio e entendo claramente como conseguimos chegar aonde chegamos.

3 comentários:

  1. Eis que crescemos!
    Tornamos o que nos tornamos pela felicidade que emanamos de nossas mentes!

    ResponderExcluir
  2. isso tudo de crescer é em homenagem ao dia das crinaças, é?
    Que bonito :)

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir