terça-feira, 10 de novembro de 2009

Carta à um amigo AUEI.


Fortaleza, 11 de novembro de 2009.


Olá amigo, como vai? Eu continuo aqui, de boa, sem nenhuma novidade. Mas, ainda assim, eu tenho pensado muito sobre nossa ultima conversa. Só de pensar que tudo pode ser muito maior do que nós mesmos já me faz pensar que somos, mesmo assim, grandes e potentes e que, apesar disso, sempre há um lugar no alto para se olhar.
É meu amigo, nós somos homens e somos racionais até onde nos permitimos ser, porque há muitos muros que tapam nossa vista, muitas construções bizarras nessa cidade, que tira a beleza dos mais simples descampados entre uma casa e outra. Tudo nas nossas vidas tem mudado agressivamente! Ontem, de manhã, mataram um sujeito na rua do lado, eu ou o meu vizinho poderia não ter sentido a ausência desse homem se ele não fosse o padeiro. Mas acho que tudo está tão perdido e desacreditado que a maior falta que se sentiu, para muitos, foi do pão na mesa.
Não sei mais, estou pensando em ir embora, acho que eu não pertenço mais ao lugar de onde eu vim. Não acredito mais na honestidade nem na generosidade espontânea. Acho que a alegria da vida está longe das grandes cidades e das multidões ferozes que circulam nas ruas e que treinam o coração para ser frio e duro diante de alguém que passa fome ou tristeza. Eu tenho vivido muita coisa boa por aqui, tenho pessoas boas com quem eu posso contar, mas, ainda assim, tem certas coisas que me faltam e que eu sei que só posso buscar nas moradas mais humildes onde, ainda que seja numa pequena moldura simples, eu posso encontrar Deus.
É complicado, meu amigo, não sei desde quando eu comecei a pensar assim, e fico mais surpreendido ainda pela afinidade que tivemos na nossa linha de pensamento. O mais legal de tudo é que toda ordem que antes pra mim representava uma vida e suas veredas agora não significa absolutamente nada, chegando a ser, inclusive, inútil e incoerente. É dispensável toda a formação que eu tive até hoje, aquela coisa toda que tanto nos doutrinaram, nos responsabilizando e nos intimando a sermos o futuro de uma nação afundada no desrespeito e na maldade cotidiana. Não sei se estou certo dos novos rumos que estou tomando, mas é vendo que o ser humano é carne e, como toda carne do mundo, um dia apodrece e some sem deixar saudade que eu penso que devo me desapegar a esse jogo perigoso dos homens, onde só vence o ultimo que se mantém de pé.
Por isso estou decidido a ser diferente. Quero ser uma pessoa melhor que faz dos seus dias o motivo de alegria. Vou procurar o meu melhor para conseguir o melhor pra mim. Quero as melhores pessoas ao meu lado e quero ser reflexo da bondade e da amizade.
Tudo isso é estranho, sinto-me como se tivesse dormido em água e acordado em vinho. Sou um milagre no meio de tanta pedra e areia fina! E quero me apartar de todos os valores atrasados e equivocados que são diariamente plantados nas escolas, nas televisões e até mesmo entre quatro paredes, de forma criminosa, egoísta e irresponsável.
Meu caro amigo, hoje eu sou uma pessoa nova, e creio que você também seja, já que estamos sob o céu das mesmas idéias. Bem, só sinto dificuldade de identificar ao certo toda essa tomada de consciência que eu estou atravessando, mas creio que em algum lugar dessa cidade tem alguém que sabe muito bem o que é isso, pois eu sei que não estou só no mundo com essa revolução inquieta brotando da minha cabeça, pelo contrário, sei que deve haver grupos aos montes que buscam a liberdade, ainda que sejam por caminhos distantes e distantes por onde tem andado tanto...

2 comentários:

  1. "Sou um milagre no meio de tanta pedra e areia fina!"

    Bélissimo texto que mostra realmente todas as inquietações do ser humano Auei! Devemos tirar tudo o que aprisiona o ser humano a essa sociedade que infelizmente temos fortes vinculos ainda.
    Grande texto e grande expressão do Auei-ísmo!

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  2. "Quero as melhores pessoas ao meu lado [...]"

    Pois é né, fazer o que... ;D

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