Bananeira
verde-palma espacial, seremos a herança de nosso tempo ferido, de um povo
vencido e superado pela violência. Somos um pequeno núcleo atômico de paz no
universo, e agora, pela responsabilidade que temos com o amor, vamos criar um
novo mundo, tão bonito quanto as nossas intenções e tão forte quanto os olhos
dessa juventude jardineira que constrói a beleza de nossa face pela vontade do
bem. E somos nós, bananeira, a esperança de todas essas estrelas, iluminadas
pelo espelho refletor das esquinas de nossas almas vitaminadas e iodadas
pelas tuas composições de riqueza. Somos os filhos que abandonarão o planeta
Terra assim como, há tempos atrás, abandonamos nossas casas e nossas terras,
nossa história e nossos hábitos de caminhar pelo quintal às sete da manhã,
deixando entrar nos olhos a luz do sol, deixando essa luz aquecer nossa pele de
oito anos, dez anos, milênios habitando esse mundo pequeno que, entre dia e
noite, aflorava nos nossos corações a tristeza dos noticiários da televisão, a
realidade dos que não jantam, nem dormem, nem rezam e nem amam. E hoje, longe
do nosso berço, iniciaremos nossa vida de criança no lugar que escolhemos para
nós, onde poderemos brincar nos vastos campos das terras de Marte, pois será
lá, muito além do escuro breu espacial da via láctea, que seremos felizes, no
pequeno sítio que pela minha promessa eu irei erguer, pois eu estou cansado, e
você já sabe, desse oxigênio venenoso terrestre, dessa água amarga de nossos
rios poluídos e dessas pessoas perigosas que todo dia tomamos conhecimento de
sua existência. Por isso, será em Marte que alcançaremos a redenção de nossas
vidas, será nesse sítio que estaremos aconchegados pela paz e lá não haverá
limite para as nossas vontades, pois nossas vidas fluirão pelo espaço marciano
e não nos faltará gelo seco e pão rochoso em nossa mesa – além de banana, é
claro – e isso será a recompensa para nós, que somos a marca sinistra do
processo civilizacional terrestre, pois fomos as maiores vítimas das armas
egoístas dos grandes homens que ambicionaram terras, céus, mares, tesouros
brilhantes e almas fragilizadas pelo duro porrete da vaidade alheia. E aqui,
tenho certeza, tudo será diferente, pois nós, em nosso sítio, poderemos ser
tudo o que não conseguimos ser no Brasil – o país do fracasso – porque aqui nós
teremos os nosso pés para nos sustentar, as mãos amigas para nos acariciar e
todos os amigos do mundo para viajar em nossos corações. Tudo isso em Marte. E
no fim do dia poderemos sentar na porta de nossa casa e ver lá além da
cordilheira alaranjada o pôr do sol mais lindo do universo, e nosso rosto será
iluminado pela luz desse céu rosa-avermelhado e nada mais nos incomodará, nem
as tempestades de poeira desse novo planeta, nem a força desse hidróxido de
carbono a preencher os espaços do nosso pulmão, pois aqui seremos criaturas
novas e não sofreremos mais com as limitações biológicas, tão comum na nossa
infância. E assim nossa palavra será sagrada e veremos um novo mundo surgir
através de nossas mãos trabalhadeiras, movidas pela ação da vontade em
construir a felicidade, esse é o destino de nossa raça e de nossa capacidade de
ser bom. Por isso que faremos de Marte a nova Canaã espacial, e não haverá mais
terceiro mundo, nem século XXI, nem divisões étnicas, nem guerras, nem
dinheiro, nem hierarquia, nem o veneno da política e das tradições impossíveis
de suportar. O céu é vermelho, a terra é vaga, o sol é o mesmo sol que nasce em
Medelín, e o homem será nós, eu, meus amigos e você, bananeira, que será tão
homem quanto eu, tão criatura quanto eu, e verei no teu coração roxo a bater na
ponta do cacho de bananas a satisfação de viver uma nova oportunidade de vida.
Essa será a nossa primavera marciana, o segredo de nossas intenções em pensar
na criação de um homem diferente, que renasce sob o fogo do sol e sob a luz dos
cometas vadios, tão vadios quanto nós que, por onde passamos, deixamos um
rastro de lágrima e nódoa a sujar o chão imundo dos desertos citadinos
terrestres por onde passamos e fomos vitimas de guerras perversas entre anjos e
demônios. Para esquecer essa imagem projetada em nossas retinas, achamos como
solução o desejo de sermos matéria-prima para fazer surgir a paz no céu deste
novo planeta, tão solitário e ansioso pela nossa chegada. Nós, que somos o
grande amor do sistema solar, dessa galáxia inocente de nossos crimes e que
manifesta a velha ferida de abrigar na Terra o maior atraso já visto desde a
grande explosão cósmica, esqueceremos por vontade a curta aventura humana e nos
preocuparemos apenas com a vida boa que teremos em nosso sítio. Teremos uma
casa emendada a um jardim, um campo para cultivar flores alienígenas e teremos
uma cozinha de onde sairá as maiores delicias que nossas línguas já tocaram,
teremos uma despensa farta onde estocaremos os melhores queijos de Vênus e uma sala
onde, volta e meia, receberemos visitas ilustres (o novo auêi de Saturno, a
encantada princesa lunar, o espírito da primeira vida universal...), e teremos um viveiro
de proporções galácticas onde criaremos graúnas, sabiás, saadjiáhs, pinjious,
maranhuaras e tantos outros passarinhos de tantas outras localidades
galácticas. A vida será boa, não faltará
nada e não haverá nada que nos afaste da alegria, pois seremos nós que
conduziremos nossa vida no sentido da alegria, seremos nós que mandaremos nos
nossos passos e seremos nós os inteiros responsáveis pela definição clara de
nossos caminhos, e isso é bom, porque a vida em Marte, além de ser uma boa
chance de recomeçar tudo, será um tapa na cara dos terráqueos otários que
duvidam da vida no além-Terra.
terça-feira, 14 de agosto de 2012
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