terça-feira, 14 de agosto de 2012

A nova colônia da alegria.


Bananeira verde-palma espacial, seremos a herança de nosso tempo ferido, de um povo vencido e superado pela violência. Somos um pequeno núcleo atômico de paz no universo, e agora, pela responsabilidade que temos com o amor, vamos criar um novo mundo, tão bonito quanto as nossas intenções e tão forte quanto os olhos dessa juventude jardineira que constrói a beleza de nossa face pela vontade do bem. E somos nós, bananeira, a esperança de todas essas estrelas, iluminadas pelo espelho refletor das esquinas de nossas almas vitaminadas e iodadas pelas tuas composições de riqueza. Somos os filhos que abandonarão o planeta Terra assim como, há tempos atrás, abandonamos nossas casas e nossas terras, nossa história e nossos hábitos de caminhar pelo quintal às sete da manhã, deixando entrar nos olhos a luz do sol, deixando essa luz aquecer nossa pele de oito anos, dez anos, milênios habitando esse mundo pequeno que, entre dia e noite, aflorava nos nossos corações a tristeza dos noticiários da televisão, a realidade dos que não jantam, nem dormem, nem rezam e nem amam. E hoje, longe do nosso berço, iniciaremos nossa vida de criança no lugar que escolhemos para nós, onde poderemos brincar nos vastos campos das terras de Marte, pois será lá, muito além do escuro breu espacial da via láctea, que seremos felizes, no pequeno sítio que pela minha promessa eu irei erguer, pois eu estou cansado, e você já sabe, desse oxigênio venenoso terrestre, dessa água amarga de nossos rios poluídos e dessas pessoas perigosas que todo dia tomamos conhecimento de sua existência. Por isso, será em Marte que alcançaremos a redenção de nossas vidas, será nesse sítio que estaremos aconchegados pela paz e lá não haverá limite para as nossas vontades, pois nossas vidas fluirão pelo espaço marciano e não nos faltará gelo seco e pão rochoso em nossa mesa – além de banana, é claro – e isso será a recompensa para nós, que somos a marca sinistra do processo civilizacional terrestre, pois fomos as maiores vítimas das armas egoístas dos grandes homens que ambicionaram terras, céus, mares, tesouros brilhantes e almas fragilizadas pelo duro porrete da vaidade alheia. E aqui, tenho certeza, tudo será diferente, pois nós, em nosso sítio, poderemos ser tudo o que não conseguimos ser no Brasil – o país do fracasso – porque aqui nós teremos os nosso pés para nos sustentar, as mãos amigas para nos acariciar e todos os amigos do mundo para viajar em nossos corações. Tudo isso em Marte. E no fim do dia poderemos sentar na porta de nossa casa e ver lá além da cordilheira alaranjada o pôr do sol mais lindo do universo, e nosso rosto será iluminado pela luz desse céu rosa-avermelhado e nada mais nos incomodará, nem as tempestades de poeira desse novo planeta, nem a força desse hidróxido de carbono a preencher os espaços do nosso pulmão, pois aqui seremos criaturas novas e não sofreremos mais com as limitações biológicas, tão comum na nossa infância. E assim nossa palavra será sagrada e veremos um novo mundo surgir através de nossas mãos trabalhadeiras, movidas pela ação da vontade em construir a felicidade, esse é o destino de nossa raça e de nossa capacidade de ser bom. Por isso que faremos de Marte a nova Canaã espacial, e não haverá mais terceiro mundo, nem século XXI, nem divisões étnicas, nem guerras, nem dinheiro, nem hierarquia, nem o veneno da política e das tradições impossíveis de suportar. O céu é vermelho, a terra é vaga, o sol é o mesmo sol que nasce em Medelín, e o homem será nós, eu, meus amigos e você, bananeira, que será tão homem quanto eu, tão criatura quanto eu, e verei no teu coração roxo a bater na ponta do cacho de bananas a satisfação de viver uma nova oportunidade de vida. Essa será a nossa primavera marciana, o segredo de nossas intenções em pensar na criação de um homem diferente, que renasce sob o fogo do sol e sob a luz dos cometas vadios, tão vadios quanto nós que, por onde passamos, deixamos um rastro de lágrima e nódoa a sujar o chão imundo dos desertos citadinos terrestres por onde passamos e fomos vitimas de guerras perversas entre anjos e demônios. Para esquecer essa imagem projetada em nossas retinas, achamos como solução o desejo de sermos matéria-prima para fazer surgir a paz no céu deste novo planeta, tão solitário e ansioso pela nossa chegada. Nós, que somos o grande amor do sistema solar, dessa galáxia inocente de nossos crimes e que manifesta a velha ferida de abrigar na Terra o maior atraso já visto desde a grande explosão cósmica, esqueceremos por vontade a curta aventura humana e nos preocuparemos apenas com a vida boa que teremos em nosso sítio. Teremos uma casa emendada a um jardim, um campo para cultivar flores alienígenas e teremos uma cozinha de onde sairá as maiores delicias que nossas línguas já tocaram, teremos uma despensa farta onde estocaremos os melhores queijos de Vênus e uma sala onde, volta e meia, receberemos visitas ilustres (o novo auêi de Saturno, a encantada princesa lunar, o espírito da primeira vida universal...), e teremos um viveiro de proporções galácticas onde criaremos graúnas, sabiás, saadjiáhs, pinjious, maranhuaras e tantos outros passarinhos de tantas outras localidades galácticas. A vida será boa,  não faltará nada e não haverá nada que nos afaste da alegria, pois seremos nós que conduziremos nossa vida no sentido da alegria, seremos nós que mandaremos nos nossos passos e seremos nós os inteiros responsáveis pela definição clara de nossos caminhos, e isso é bom, porque a vida em Marte, além de ser uma boa chance de recomeçar tudo, será um tapa na cara dos terráqueos otários que duvidam da vida no além-Terra.

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