terça-feira, 21 de agosto de 2012


Vejo no céu a estrela clara da minha noite, que perfura o horizonte na denúncia dos perdidos, pois tão ignorados são os vestígios da festa que venho, e hoje sou peça fria que compõe a face da rua, inundada com o leite aflito das tristes mães de maio, cansadas de procurar corações sob o asfalto da nossa cidade, pois para além de todos os lares estão os gritos dos indivíduos. Entre eles, ouço José, amparado pelo amor de Deus, vejo fartura e vejo fome, e muitos sonhos capazes de revelar nosso caminho torto pelo deserto extenso que combinamos chamar de América. E assim aprendemos a amar nossos pais, Cortez, Pizarro, e todos os bandeirantes que estupraram São Paulo, embelezando nosso jardim com os olhos gordos da Europa. E eu, da minha janela, vejo a beleza sinistra de nossas doenças, configuradas no poder ignorado pelos ignorantes indiferentes que ambicionam nutrir a carne, amofinando o espírito, lançando flautas contra as paredes e lavando com cachaça todas as pressões que sofrem, pelo triste destino, todos aqueles que são abandonados sob as asas do medo. E surgem, feito espíritos endividados, nas fotografias que simulam alegrias, olhando, como quem pede algo, para a face de Nossa Senhora da Conceição, mas ela, muitos esquecem, é tão mãe como todas as Nossas Senhoras, e todas as mães de maio, e todas as mães de Portugal, do Vietnã, da Síria, de Cuba e do céu, pois até a mãe aflita soube dissipar o ódio do coração de seu filho e conduzi-lo ao amor, plantando em seu coração a voz da vida, que é a voz que ecoa em nossas cabeças, e pode ser ouvida desde minha varanda até qualquer lugar que haja um homem capaz de promover a alegria de um irmão. Mas quando amanhece e minha estrela clara da noite some, eu me mantenho convicto de todas as reflexões que a luz estrelar me induz e me estimula a ter, e antes que eu ponha os pés fora da cama, eu penso nas dores do mundo e responsabilizo a todos nós pelo amor que nós possuímos e muitas vezes não somos capazes de oferecer.

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