Vejo no céu a estrela
clara da minha noite, que perfura o horizonte na denúncia dos perdidos, pois
tão ignorados são os vestígios da festa que venho, e hoje sou peça fria que
compõe a face da rua, inundada com o leite aflito das tristes mães de maio,
cansadas de procurar corações sob o asfalto da nossa cidade, pois para além de
todos os lares estão os gritos dos indivíduos. Entre eles, ouço José, amparado
pelo amor de Deus, vejo fartura e vejo fome, e muitos sonhos capazes de revelar
nosso caminho torto pelo deserto extenso que combinamos chamar de América. E
assim aprendemos a amar nossos pais, Cortez, Pizarro, e todos os bandeirantes
que estupraram São Paulo, embelezando nosso jardim com os olhos gordos da
Europa. E eu, da minha janela, vejo a beleza sinistra de nossas doenças,
configuradas no poder ignorado pelos ignorantes indiferentes que ambicionam
nutrir a carne, amofinando o espírito, lançando flautas contra as paredes e
lavando com cachaça todas as pressões que sofrem, pelo triste destino, todos
aqueles que são abandonados sob as asas do medo. E surgem, feito espíritos
endividados, nas fotografias que simulam alegrias, olhando, como quem pede
algo, para a face de Nossa Senhora da Conceição, mas ela, muitos esquecem, é
tão mãe como todas as Nossas Senhoras, e todas as mães de maio, e todas as mães
de Portugal, do Vietnã, da Síria, de Cuba e do céu, pois até a mãe aflita soube
dissipar o ódio do coração de seu filho e conduzi-lo ao amor, plantando em seu
coração a voz da vida, que é a voz que ecoa em nossas cabeças, e pode ser
ouvida desde minha varanda até qualquer lugar que haja um homem capaz de
promover a alegria de um irmão. Mas quando amanhece e minha estrela clara da
noite some, eu me mantenho convicto de todas as reflexões que a luz estrelar me
induz e me estimula a ter, e antes que eu ponha os pés fora da cama, eu penso
nas dores do mundo e responsabilizo a todos nós pelo amor que nós possuímos e
muitas vezes não somos capazes de oferecer.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
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